Rivalidade entre Clube do Remo e Payssandu: A História do Clássico Rei da Amazônia
Torcidas do Clube do Remo e Paysandu em um clássico Re-Pa no Estádio Mangueirão
No coração da Amazônia brasileira, uma das mais intensas e longevas rivalidades do futebol nacional divide a cidade de Belém há mais de um século. O confronto entre Clube do Remo e Paysandu, carinhosamente chamado de Re-Pa ou Clássico Rei da Amazônia, transcende as quatro linhas e se estabelece como um fenômeno cultural que molda identidades, divide famílias e une comunidades em torno da paixão pelo futebol paraense.

Com mais de 775 jogos disputados, o Re-Pa é considerado o clássico mais disputado do mundo, superando rivalidades tradicionais como Flamengo x Fluminense ou Corinthians x Palmeiras. Esta rivalidade centenária não apenas definiu o futebol da região Norte, mas também contribuiu significativamente para a rica tapeçaria do futebol brasileiro como um todo.

O Estádio Mangueirão dividido entre as cores azulinas do Remo e bicolores do Paysandu durante um clássico Re-Pa

As Origens da Rivalidade: Como Tudo Começou

A história do clássico Re-Pa remonta ao início do século XX, quando o futebol começava a se estabelecer como esporte popular no Brasil. O Clube do Remo, fundado em 1905 originalmente como um clube de remo (como o nome sugere), já era uma instituição estabelecida quando o Paysandu Sport Club surgiu em 2 de fevereiro de 1914.

Segundo o historiador Itamar Gaudêncio, especialista em futebol paraense, a própria criação do Paysandu já nasceu da rivalidade. “A criação do Paysandu surge do embate entre o Norte Clube, antecessor do Paysandu, contra o Clube do Remo. Após um jogo em 1913, Hugo Leão com Edgar Proença, que por incrível que pareça era remista, e outros baluartes, resolveram criar outro time que fizesse frente ao Remo.”

Foto histórica do primeiro confronto entre Clube do Remo e Paysandu em 1914

Registro histórico de um dos primeiros confrontos entre Remo e Paysandu no início do século XX

O primeiro confronto oficial entre as equipes ocorreu em 14 de junho de 1914, apenas quatro meses após a fundação do Paysandu. Naquela ocasião, o Remo venceu por 2 a 1, com o primeiro gol marcado por Rubilar, do Remo, em um gol olímpico que entrou para a história. Curiosamente, apesar da derrota, a rivalidade não se estabeleceu imediatamente.

Foi apenas em 1915 que a rivalidade realmente se acirrou, após um episódio envolvendo um festival esportivo de bairro. A diretoria do Remo enviou um ofício ao Paysandu propondo um amistoso beneficente, mas a resposta bicolor veio carregada de provocações, levando ao rompimento definitivo das relações amistosas entre os clubes.

O Contexto Regional: O Futebol como Identidade Paraense

Para entender a dimensão desta rivalidade, é fundamental compreender o contexto do Pará e da região amazônica. Distante dos grandes centros do futebol brasileiro, o estado desenvolveu sua própria cultura futebolística, tendo o Re-Pa como sua maior expressão.

O futebol paraense, através desta rivalidade, construiu uma identidade própria que resistiu ao avanço da nacionalização das torcidas. Enquanto em muitos estados os times locais perderam espaço para clubes do eixo Rio-São Paulo, no Pará a paixão pelo Re-Pa manteve-se inabalável ao longo das décadas.

“A dupla Re-Pa é patrimônio histórico do Pará, existe uma lei inclusive. Eu acho que é em torno dela que podemos fortalecer outros clubes e criar uma visibilidade para o futebol paraense como um todo.”

Itamar Gaudêncio, historiador do futebol paraense

Confrontos Históricos: Os Jogos que Definiram a Rivalidade

Ao longo de mais de um século de história, o Re-Pa produziu momentos inesquecíveis que permanecem vivos na memória coletiva dos torcedores paraenses. Alguns desses confrontos transcenderam o esporte e se tornaram marcos culturais.

Comemoração histórica em um clássico Re-Pa decisivo no Mangueirão lotado

Momento de comemoração em um Re-Pa decisivo com o Mangueirão completamente lotado

A Maior Goleada: Paysandu 7 x 0 Remo (1945)

Em 22 de julho de 1945, o Paysandu aplicou a maior goleada da história do clássico. Um impressionante 7 a 0 sobre o rival, em pleno Estádio Evandro Almeida (Baenão), casa do Remo. O jogo, válido pelo Campeonato Paraense, é lembrado com orgulho pelos bicolores e ainda hoje é usado como provocação contra os rivais azulinos.

O Tabu de 33 Jogos do Remo (1993-1997)

Entre 31 de janeiro de 1993 e 7 de maio de 1997, o Remo impôs um impressionante tabu de 33 jogos sem perder para o Paysandu. Durante esse período, foram 21 vitórias azulinas e 12 empates, com o Leão conquistando um pentacampeonato estadual. O número 33 tornou-se um símbolo de glória para os remistas e um pesadelo para os torcedores do Papão.

Torcida do Remo celebrando o tabu de 33 jogos sem perder para o Paysandu

Torcedores do Remo exibem faixas comemorativas do histórico tabu de 33 jogos invictos contra o Paysandu

Paysandu na Libertadores: A Glória Internacional (2003)

Em 2003, o Paysandu escreveu seu nome na história do futebol brasileiro ao se tornar o único clube da região Norte a disputar a Copa Libertadores da América. O auge dessa campanha foi a histórica vitória por 1 a 0 sobre o Boca Juniors, em plena La Bombonera, com gol de Iarley. Este feito elevou o status do Papão e, consequentemente, intensificou a rivalidade com o Remo.

O Acesso na Série C (2021)

Em janeiro de 2021, o Re-Pa ganhou contornos nacionais com um duelo decisivo pela Série C do Campeonato Brasileiro. O Remo venceu por 1 a 0, com gol de Salatiel, garantindo o acesso à Série B e deixando o Paysandu para trás. O jogo, disputado sem público devido à pandemia, foi um marco recente que intensificou ainda mais a rivalidade.

Impacto Cultural e Social: Mais que um Jogo de Futebol

O Clássico Rei da Amazônia transcende o campo de jogo e se enraíza profundamente na cultura paraense. Em 4 de maio de 2016, o Re-Pa foi oficialmente declarado patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará, reconhecendo sua importância como expressão cultural do povo local.

Cidade de Belém dividida entre as cores do Remo e Paysandu em dia de clássico

Belém se transforma em um mosaico de azul e bicolor nos dias de Re-Pa, com bandeiras e cores dos times por toda a cidade

Nos dias de clássico, Belém se transforma: as ruas se enchem de azul-marinho (Remo) e azul-celeste e branco (Paysandu), as provocações ecoam nas redes sociais e o Mangueirão, principal estádio da cidade, vira um caldeirão de emoções. Famílias se dividem, amizades são temporariamente suspensas e a cidade respira futebol.

A Proximidade Física: Vizinhos e Rivais

Um fato curioso que intensifica a rivalidade é a proximidade física entre os estádios dos dois clubes. O Baenão (Remo) e a Curuzu (Paysandu) estão separados por apenas 250 metros, uma das menores distâncias entre estádios de rivais no mundo. Essa vizinhança intensifica o clima de competição, com torcedores vivendo o clássico literalmente porta a porta.

Vista aérea mostrando a proximidade entre os estádios Baenão e Curuzu

Vista aérea mostrando a incrível proximidade de apenas 250 metros entre o Baenão (Remo) e a Curuzu (Paysandu)

Segundo o historiador Itamar Gaudêncio, essa proximidade não é coincidência: “Essa questão de vizinhos, os dois clubes seguem o padrão da rivalidade. O estádio da Curuzu é de 1914, mas não era do Paysandu, já o Baenão é de 1917. A construção do Estádio Baenão não foi à toa e tem um detalhe. O nome Paysandu é em homenagem à Guerra do Paraguai e o Estádio do Baenão se chamava assim porque Antônio Nicolau Botelho Baena, foi comandante geral da PM na época do império e foi para a Guerra do Paraguai.”

As Torcidas: Fenômeno Azul e Fiel Bicolor

A torcida do Remo, conhecida como Fenômeno Azul, e a do Paysandu, chamada Fiel Bicolor, são famosas por suas coreografias impressionantes e pelo apoio incondicional. Em jogos no Mangueirão, o estádio frequentemente se divide em duas metades quase perfeitas, criando um espetáculo visual único no futebol brasileiro.

Mosaico das torcidas de Remo e Paysandu em um clássico no Mangueirão

Mosaicos impressionantes criados pelas torcidas de Remo e Paysandu dividem o Mangueirão em um espetáculo visual

Estatísticas e Curiosidades: Os Números do Clássico

Estatística Remo Paysandu Empates
Vitórias 268 243 264
Gols marcados 980 979
Títulos Paraenses 47 49

Curiosidades Fascinantes

Primeiro gol olímpico da história do Re-Pa marcado por Rubilar em 1914

Representação artística do primeiro gol olímpico da história do Re-Pa, marcado por Rubilar em 1914

  • O Re-Pa é considerado o clássico mais disputado do mundo, com mais de 775 partidas realizadas.
  • O maior artilheiro do clássico é Hélio, do Paysandu, com 47 gols.
  • O maior público no Baenão foi de 33.487 torcedores, em 1976, na vitória do Remo por 5 a 2.
  • Em 1977, Remo e Paysandu empataram em 1 a 1 no Suriname, no primeiro Re-Pa fora do Brasil.
Hélio, maior artilheiro da história do Re-Pa com 47 gols pelo Paysandu

Hélio, lendário atacante do Paysandu e maior artilheiro da história do Re-Pa com 47 gols

  • A menor distância entre os estádios de rivais no Brasil: apenas 250 metros separam o Baenão da Curuzu.
  • O Re-Pa é patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará desde 2016.
  • O Paysandu é o único clube da região Norte a disputar a Copa Libertadores da América (2003).
  • Em 2022, um apagão nos refletores da Curuzu interrompeu a final do Paraense entre os rivais.

Perspectivas: A Visão de Quem Vive a Rivalidade

Torcedor histórico do Clube do Remo compartilhando suas memórias do Re-Pa

Carlos Menezes, 83 anos, torcedor do Remo desde 1947

“Meu primeiro Re-Pa foi em 1947, eu tinha apenas 5 anos. Meu pai me levou no colo. Desde então, já vi mais de 300 clássicos. Para mim, não existe emoção maior no futebol. Quando o Remo vence o Paysandu, a semana inteira fica mais feliz.”

Ex-jogador que atuou pelos dois clubes falando sobre a experiência de jogar o Re-Pa

Roberto Oliveira, ex-jogador que atuou por Remo e Paysandu

“Joguei por ambos os lados e posso dizer: não há pressão igual à de um Re-Pa. A cidade para, o ar fica diferente. Você sente o peso da história. Marcar um gol em um clássico desses vale por dez em qualquer outro jogo.”

Torcedora do Paysandu compartilhando sua paixão pelo clube e pela rivalidade

Maria Lúcia Ferreira, torcedora do Paysandu há 35 anos

“Minha família inteira é remista, só eu sou do Papão. Nos dias de Re-Pa, ninguém se fala em casa. Já chorei de alegria e de tristeza por causa desse clássico. É mais que futebol, é parte da nossa identidade paraense.”

Importância Nacional: O Re-Pa no Cenário do Futebol Brasileiro

Apesar da distância geográfica dos grandes centros do futebol brasileiro, a rivalidade entre Remo e Paysandu conquistou seu espaço no imaginário nacional. O Re-Pa representa a força do futebol regional e a resistência das tradições locais frente à nacionalização das torcidas.

Re-Pa sendo transmitido para todo o Brasil em uma competição nacional

Estrutura de transmissão nacional montada para um Re-Pa pela Copa do Brasil, evidenciando a relevância nacional do clássico

O Paysandu, com sua histórica participação na Libertadores de 2003, e o Remo, com campanhas marcantes em competições nacionais, ajudaram a projetar o futebol paraense para além das fronteiras regionais. A presença constante da dupla Re-Pa em divisões nacionais mantém viva a chama do futebol nortista no cenário brasileiro.

O jornalista Juca Kfouri, em visita a Belém para acompanhar um Re-Pa em 2018, declarou: “Poucos clássicos no Brasil têm a atmosfera de um Re-Pa. É um espetáculo que merece mais atenção da mídia nacional. A paixão aqui é genuína, sem artificialismo.”

“O Re-Pa é um patrimônio do futebol brasileiro. Representa a diversidade e a riqueza cultural do nosso esporte. Um país continental como o Brasil precisa valorizar suas expressões regionais, e o clássico paraense é uma das mais autênticas.”

Paulo Vinícius Coelho, jornalista esportivo

O Futuro da Rivalidade: Novos Capítulos a Serem Escritos

À medida que o futebol brasileiro evolui, Remo e Paysandu buscam recuperar o protagonismo nacional que já tiveram. Ambos os clubes trabalham para estruturar suas categorias de base, modernizar a gestão e ampliar suas receitas, sempre com o objetivo de levar o futebol paraense a patamares mais elevados.

Jovens jogadores das categorias de base de Remo e Paysandu representando o futuro da rivalidade

Jovens talentos das categorias de base de Remo e Paysandu representam o futuro da histórica rivalidade

Os projetos de reforma e ampliação do Baenão e da Curuzu, além da utilização do Mangueirão para os grandes clássicos, demonstram a preocupação com a infraestrutura necessária para o crescimento dos clubes. A presença digital cada vez mais forte também aproxima as novas gerações da paixão pelo Re-Pa.

O Re-Pa do futuro continuará sendo um símbolo de paixão, história e identidade para o povo paraense. Seja no Mangueirão lotado, na Curuzu ou no Baenão, o Clássico Rei da Amazônia seguirá escrevendo novos capítulos dessa rivalidade centenária que tanto enriquece o futebol brasileiro.

Conclusão: Mais que Rivais, Irmãos na História

A rivalidade entre Clube do Remo e Paysandu é um exemplo perfeito de como o futebol transcende o esporte e se torna parte da identidade cultural de uma região. Como disse o historiador Itamar Gaudêncio: “Não dá para separar um ou outro. Não dá para torcer contra o Remo, assim como não dá para torcer contra o Paysandu. Os dois são como gêmeos siameses e elevam o futebol paraense.”

Jogadores de Remo e Paysandu se cumprimentando após um clássico intenso, simbolizando o respeito mútuo

Apesar da intensa rivalidade, o respeito mútuo prevalece após os 90 minutos de um Re-Pa

O Re-Pa é mais que um clássico de futebol; é um patrimônio cultural que une gerações, preserva tradições e mantém viva a chama da paixão pelo esporte na região amazônica. A cada novo confronto, a história se renova, mas o sentimento permanece o mesmo: a paixão incondicional por duas cores, por dois escudos que representam muito mais que clubes de futebol.

Para quem ama futebol, assistir a um Paysandu x Remo ao vivo é uma experiência obrigatória — um mergulho na essência do esporte mais popular do Brasil, vivido com a intensidade única que só o povo paraense sabe proporcionar.

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