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No vibrante e pulsante Mercado Ver-o-Peso, em Belém do Pará, um nome ecoa com a força da tradição e o aroma das ervas: Beth Cheirosinha. Bernardete Freire Costa, seu nome de batismo, é muito mais do que uma vendedora; aos seus mais de 70 anos, ela é uma instituição viva, uma erveira respeitada que carrega consigo mais de meio século de sabedoria ancestral sobre o poder das plantas da Amazônia. Considerada por muitos um patrimônio cultural de Belém, sua figura é indissociável da maior feira livre da América Latina.
O ofício de Beth Cheirosinha não nasceu com ela, mas sim foi herdado através de uma linhagem forte de mulheres erveiras. Sua avó, conhecida como Mãe Velha, e sua mãe, Dona Cheirosa, foram pioneiras na venda de ervas no Ver-o-Peso, muito antes da estrutura atual do mercado existir. Vindas do interior, de Genipaúba, elas traziam as plantas em paneiros de cipó e as vendiam diretamente no chão, compartilhando seus conhecimentos sobre os usos medicinais e místicos de cada folha, raiz e semente. Mãe Velha, que faleceu com impressionantes 115 anos, e Dona Cheirosa, que viveu até os 90, fincaram as raízes de uma tradição que Beth não só continuou, mas ajudou a florescer, transformando a barraca de ervas em um ponto de referência cultural e espiritual.
Com mais de 54 anos dedicados às plantas medicinais, Beth se autointitula, com justiça, “doutora da medicina natural”. Em sua barraca colorida e perfumada no corredor das ervas do Ver-o-Peso, ela oferece uma vasta gama de produtos: ervas frescas in natura, essências concentradas, preparos medicinais para diversos males do corpo e da alma, e o famoso banho de cheiro. Esta infusão aromática, uma herança preciosa das tradições indígenas e negras, é procurada por pessoas de todos os cantos em busca de prosperidade, saúde, amor e proteção. Beth explica com poesia os nomes e usos de plantas como “carrapatinho”, “agarradinha”, “chega-te a mim”, “chora nos teus pés” e “pega e não te larga”, demonstrando um conhecimento profundo que transcende a botânica e adentra o campo da energia e da fé.
Beth Cheirosinha
O trabalho de Beth Cheirosinha e das outras erveiras do Ver-o-Peso representa a manutenção de um saber ancestral que, por muito tempo, foi marginalizado e invisibilizado pelo processo de colonização. Reconhecer e valorizar esse conhecimento é fundamental para a preservação da cultura brasileira e para a reconexão com as raízes populares. Como aponta a farmacêutica Alline Cipriano, especialista em fitoterapia, essas mulheres são “uma enorme biblioteca viva”, guardiãs de um conhecimento milenar sobre espécies medicinais e litúrgicas. A sabedoria popular das erveiras serviu, inclusive, como base para o desenvolvimento de terapias holísticas contemporâneas, como a aromaterapia e a terapia floral, que buscam o equilíbrio entre corpo, mente e espírito.
Hoje, o bloco de ervas do Ver-o-Peso conta com cerca de 80 barracas, um testemunho da vitalidade dessa tradição que Beth Cheirosinha ajudou a consolidar. Sua presença carismática, sua fala poética e seu profundo conhecimento das ervas amazônicas a tornaram uma das figuras mais emblemáticas de Belém, atraindo não só clientes em busca de soluções para seus problemas, mas também a atenção da mídia e de pesquisadores interessados na riqueza cultural da região. Beth Cheirosinha é, sem dúvida, uma guardiã essencial da sabedoria ancestral e um símbolo vivo da identidade paraense.
Referências
•UOL Notícias. (2023, 10 de janeiro). Beth Cheirosinha conta como usa as ervas para ‘abrir caminhos’ em 2023. Recuperado de https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2023/01/10/beth-cheirosinha-conta-como-usa-as-ervas-para-abrir-caminhos-em-2023.htm
•ELLE Brasil. (2020, 6 de agosto). Beth Cheirosinha mantém viva a tradição das erveiras. Recuperado de
