Estudo sobre a Produção de Cupuaçu no Pará

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é uma fruta nativa da Amazônia com grande importância econômica, social e ambiental para a região, especialmente para o estado do Pará. Reconhecido por seu sabor e versatilidade, o cupuaçu é amplamente utilizado na culinária e na indústria, gerando renda e oportunidades para comunidades locais. Este estudo visa apresentar uma análise abrangente da produção de cupuaçu no Pará, abordando dados estatísticos, aspectos agronômicos, desafios e oportunidades.

Dados de Produção e Aspectos Econômicos

Com base nos dados do IBGE (2017), o Pará se destaca como um dos principais produtores de cupuaçu no Brasil. A produção estadual de cupuaçu em 2017 foi de 4.965 toneladas, com um valor de produção de 16.188 mil reais. A área colhida foi de 4.143 hectares, distribuídos em 4.360 estabelecimentos, totalizando 1.726 mil unidades de pés de cupuaçu. O município de Tomé-Açu se destaca como o maior produtor no estado.

O cultivo do cupuaçu representa uma fonte de renda crucial para muitas famílias na região Norte, especialmente para pequenos produtores. A fruta e seus derivados, como polpa, sucos, sorvetes, geleias e o cupulate (chocolate de cupuaçu), têm ganhado espaço no mercado nacional e internacional, impulsionando a economia local.

Aspectos Técnicos e Agronômicos do Cultivo

O cupuaçuzeiro é uma planta que se adapta bem às condições climáticas da Amazônia, mas exige cuidados específicos para um cultivo produtivo e sustentável.

Condições Ideais de Cultivo Solo

O solo ideal para o cupuaçu deve ser rico em matéria orgânica, profundo, bem drenado e com pH entre 5,0 e 6,5. Solos argilosos ou argilo-arenosos são preferíveis devido à sua capacidade de retenção de umidade.

Luminosidade: Embora tolere alguma sombra, o cupuaçu se desenvolve melhor em locais com boa luminosidade indireta.

Umidade: A umidade é um fator crítico; o solo deve ser mantido úmido, mas nunca encharcado.

Técnicas de Plantio e Manejo

Mudas: O plantio pode ser realizado com mudas de pé-franco ou enxertadas. As mudas enxertadas tendem a florescer mais cedo, geralmente a partir do segundo ano.

Espaçamento:  Recomendações de espaçamento variam, mas exemplos incluem 5m x 5m, 6m x 6m ou 6m x 4m para cultivares como a BRS Carimbó. Para mudas de pé-franco, um espaçamento de 7m x 7m em triângulo equilátero é comum.
Tratos Culturais: A manutenção da limpeza da área de plantio, roçagem, coroamento e o uso de cobertura verde ou morta são práticas essenciais.

Poda: A poda adequada é fundamental para maximizar a produtividade e a sanidade da planta. A poda monitorada e a compostagem de ramos contaminados são técnicas recomendadas.

Sistemas Agroflorestais (SAFs): O cultivo de cupuaçu em SAFs é uma prática promissora, permitindo o sombreamento necessário na fase jovem da planta e contribuindo para a recuperação de áreas degradadas.

Colheita: A colheita do cupuaçu ocorre aproximadamente quatro meses após a floração, com a produção iniciando-se geralmente no quarto ano após o plantio.

Desafios e Oportunidades

A produção de cupuaçu no Pará enfrenta desafios, mas também apresenta diversas oportunidades para o desenvolvimento sustentável da região.

Desafios

Vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa): Esta é a principal doença que afeta o cupuaçuzeiro, causando perdas significativas na produção. O fungo ataca caules, flores e frutos, resultando em deformações e baixa produtividade.

Baixa Produtividade Média: A produtividade média no Pará (2,5 t/ha) é consideravelmente inferior ao potencial das novas cultivares desenvolvidas, que podem atingir até 14 t/ha.

Outras Pragas: Além da vassoura-de-bruxa, outras pragas como besouros, pulgões, lagartas e brocas também representam ameaças à cultura.

Oportunidades

Inovação e Melhoramento Genético: O desenvolvimento de novas cultivares, como as do Kit Clonal Cupuaçu 5.0 da Embrapa (BRS Careca, BRS Fartura, BRS Duquesa, BRS Curinga e BRS Golias), oferece maior resistência a doenças e alta produtividade, com safras mais escalonadas.

Mercado Internacional: O cupuaçu tem um crescente reconhecimento no mercado global, especialmente a polpa, impulsionado pela demanda por alimentos naturais e exóticos. A exportação representa uma grande
oportunidade de expansão.Bioeconomia e Sustentabilidade: O cupuaçu é um componente chave da bioeconomia amazônica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável, a geração de renda e a conservação ambiental, especialmente através dos Sistemas Agroflorestais.

Verticalização da Cadeia Produtiva: A agregação de valor ao produto final, por meio do processamento da polpa, sementes (cupulate) e outros derivados, aumenta a rentabilidade e a competitividade no mercado.

Geração de Empregos: A cadeia produtiva do cupuaçu, desde o plantio até a comercialização, gera empregos e fortalece a economia local, envolvendo agricultores, cooperativas e distribuidores.

Restauração Florestal: O cultivo do cupuaçuzeiro em áreas degradadas contribui para a recuperação florestal, aliando produção agrícola à conservação ambiental.

Conclusão

A produção de cupuaçu no Pará é uma atividade de grande relevância, com potencial significativo para crescimento e desenvolvimento. Embora desafios como a vassoura- de-bruxa e a necessidade de aumento da produtividade média persistam, as inovações tecnológicas, o crescente interesse do mercado e o papel do cupuaçu na bioeconomia amazônica abrem um leque de oportunidades. O investimento em pesquisa, a adoção de boas práticas de manejo e o fortalecimento da cadeia produtiva são fundamentais para consolidar o cupuaçu como um pilar da economia e da sustentabilidade no estado do Pará.

 

 

Share:

Leave a Comment

Your email address will not be published.

0

TOP

Select at least 2 products
to compare