O Projeto S11D da Vale: Um Marco na Mineração Global

Análise Abrangente de Inovação, Impactos e Perspectivas Futuras

I. Introdução

O Projeto S11D Eliezer Batista, situado na Serra Sul de Carajás, no Pará, Brasil, é amplamente reconhecido como o maior empreendimento de mineração de minério de ferro do mundo. Sua magnitude é notável tanto em termos de investimento quanto de capacidade de produção. Este megaempreendimento da Vale não é apenas um projeto de grande escala, mas representa um marco significativo na história da mineração global. A designação de “maior projeto da história da Vale e da indústria de minério de ferro” ressalta a ambição da empresa e o compromisso com uma iniciativa que visa redefinir os padrões da indústria. A vastidão do projeto reflete uma visão estratégica de longo prazo e a disposição de alocar capital e recursos substanciais, estabelecendo um novo ponto de referência para a competitividade e as práticas sustentáveis no setor de mineração global.

s objetivos iniciais do S11D eram multifacetados e de grande importância estratégica para a Vale e para o Brasil. Primordialmente, o projeto visava consolidar a posição da Vale como a mineradora de ferro de menor custo da indústria. A previsão era de que o custo C1 do minério entregue no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA), atingisse US$ 7,7 por tonelada até 2020. Este valor representava uma redução de 47% em relação ao custo médio da Vale na época , o que se traduziria em uma vantagem competitiva substancial no mercado internacional de minério de ferro, especialmente em cenários de volatilidade de preços. A capacidade de produzir a um custo tão baixo posiciona o S11D no patamar inferior da curva de custos da indústria global. Essa vantagem de custo é fundamental para a lucratividade da Vale e confere à empresa maior flexibilidade em suas estratégias de mercado. Além disso, o minério de alta qualidade e baixo custo do S11D permite a “blendagem” (mistura) com minérios de menor teor provenientes de outras minas da Vale, otimizando o portfólio de produtos e aprimorando a competitividade do minério brasileiro no mercado internacional.

Adicionalmente, o S11D foi concebido com o propósito de criar um paradigma na indústria de mineração, associando intrinsecamente alta produtividade com inteligência ambiental. O investimento total no projeto foi de US$ 14,3 bilhões , dos quais US$ 6,4 bilhões foram destinados à mina e à usina, e US$ 7,9 bilhões à infraestrutura logística. Embora algumas fontes tenham mencionado estimativas iniciais de US$ 19,7 bilhões ou US$ 19,5 bilhões , e até US$ 16 bilhões , o valor de US$ 14,3 bilhões é consistentemente citado por comunicados da Vale e notícias subsequentes, indicando que este foi o custo final após otimizações. A redução do custo inicial previsto de US$ 19,7 bilhões para US$ 14,3 bilhões demonstra ganhos de eficiência notáveis na implementação do projeto e o impacto favorável de variações cambiais. A alocação substancial de capital na logística sublinha que o S11D é um sistema integrado de produção e transporte, fundamental para o conceito “Mine-to-Port”.

II. Visão Geral e Histórico do Projeto S11DLocalização e Reservas

O Projeto S11D está estrategicamente localizado na Floresta Nacional de Carajás (Flonaca), especificamente no bloco D da Serra Sul, na região sudeste do Pará, próximo ao município de Canaã dos Carajás. A província mineral de Carajás é conhecida por abrigar algumas das maiores e mais ricas reservas de minério de ferro do mundo. O bloco D da Serra Sul, que dá nome ao projeto (S11D refere-se ao corpo S11, bloco D), possui mais de 4 bilhões de toneladas de reservas com um teor de ferro excepcionalmente alto, variando entre 66% e 67%. O potencial total do S11 é ainda maior, estimado em 10 bilhões de toneladas. 

A localização da mina do S11D dentro da área de concessão de mineração da Floresta Nacional de Carajás apresenta desafios ambientais significativos, mas, ao mesmo tempo, garante acesso a reservas de minério de ferro de altíssima qualidade e teor. Essa alta qualidade é um fator crucial não apenas para a competitividade de longo prazo da Vale no ercado global, mas também para a viabilidade tecnológica do projeto. O teor de ferro superior a 64% no minério de Carajás permite a aplicação do processamento a seco , uma inovação fundamental que reduz drasticamente o consumo de água e elimina a necessidade de barragens de rejeitos. Assim, a vantagem geológica do minério de Carajás se interliga diretamente com as soluções tecnológicas e os benefícios de sustentabilidade do S11D.

Capacidade de Produção e Investimento Total

A capacidade de produção anual do Complexo S11D é de 90 milhões de toneladas de minério de ferro. Este volume o posiciona como um dos pilares da produção da Vale e um dos maiores projetos de minério de ferro em operação globalmente. 

O investimento total no projeto foi de US$ 14,3 bilhões. Desse montante, US$ 6,4 bilhões foram alocados para a implantação da mina e da usina de processamento, e US$ 7,9 bilhões foram direcionados para a infraestrutura logística. A análise dos valores de investimento revela uma trajetória interessante: a estimativa inicial do projeto era de US$ 19,7 bilhões, mas ganhos na implementação e variações cambiais contribuíram para a redução do custo final para US$ 14,3 bilhões. Essa otimização de custos durante a execução de um empreendimento de tal magnitude é uma conquista notável. A distribuição do investimento, com uma parcela significativa dedicada à logística, enfatiza o caráter integrado do S11D, que abrange desde a extração até a expedição portuária, alinhando-se ao conceito “Mine-to-Port”. 

Cronograma de Implementação e Operação

O cronograma de implementação do S11D é um testemunho da complexidade e da escala do projeto, que se estendeu por cerca de 15 anos desde os estudos iniciais até a operação comercial plena. 

Estudos e Licenciamento

Os primeiros estudos técnicos e de viabilidade do projeto foram iniciados em 2001. A fase de licenciamento ambiental foi um processo rigoroso e sequencial: 

  • A Licença Prévia (LP), que atesta a viabilidade ambiental do empreendimento, foi concedida em junho de 2012.   

  • A Licença de Instalação (LI), que autoriza o início das obras, foi emitida no primeiro semestre de 2013.  

  • A Licença de Operação (LO), que permite o início das atividades de extração e beneficiamento, foi concedida em 9 de dezembro de 2016.  

A duração e a natureza sequencial do licenciamento refletem os desafios regulatórios e a necessidade de um planejamento meticuloso, especialmente considerando a localização do projeto em uma área ambientalmente sensível.

Construção

A fase de construção do S11D foi um empreendimento monumental:

  • As obras de infraestrutura básica e a compra de equipamentos começaram logo após a obtenção da Licença Prévia, em junho de 2012.  

  • A construção da usina teve início no primeiro semestre de 2013.  

  • A primeira concretagem, marcando o início da construção das fundações do edifício de Peneiramento Secundário da Usina de Beneficiamento, ocorreu no início de 2014.  

  • No pico das obras, o projeto gerou uma demanda por mão de obra de aproximadamente 30 mil trabalhadores, a grande maioria residentes nos estados do Pará e Maranhão.  

  • No segundo semestre de 2016, as obras físicas do empreendimento estavam 79% concluídas, com a mina e a usina em 90% e a parte logística em 70% de avanço.  

  • Uma inovação notável na construção foi a modularização da usina, inspirada no conceito empregado na indústria de plataformas offshore. Essa abordagem permitiu a pré-montagem de 109 módulos em Canaã dos Carajás, a 53 km do local de construção, e seu transporte gradual para montagem. Essa estratégia otimizou o processo construtivo, mitigando desafios operacionais e ambientais, como a minimização do desmatamento e a redução da mobilização de pessoal na área da mina.  

Operação e Ramp-up

O início das operações do S11D ocorreu no segundo semestre de 2016. A produção começou em dezembro de 2016, e o primeiro carregamento de minério em navios foi realizado em janeiro de 2017. A operação comercial foi oficialmente iniciada em janeiro de 2017.  

O ramp-up do projeto demonstrou um desempenho robusto:

  • Após um ano de operação, em dezembro de 2017, a estimativa de produção para 2017 era de 22 milhões de toneladas de minério de ferr   

  • s projeções de produção indicavam 50-55 milhões de toneladas em 2018, 70-80 milhões em 2019, e o atingimento da capacidade plena de 90 milhões de toneladas em 2020   

  • O sistema “truckless” (sem caminhões) iniciou sua operação de forma antecipada em relação ao cronograma original e performou acima do previsto para o primeiro ano de ramp-up.  

  • A vida útil da mina é estimada em 30 anos.  

O cronograma de implementação do S11D, que se estendeu por mais de uma década desde os estudos iniciais , reflete a complexidade e a escala do projeto, especialmente considerando os rigorosos processos de licenciamento ambiental e a necessidade de desenvolver tecnologias inovadoras em uma área ambientalmente sensível. A antecipação da operação do sistema “truckless” e a construção modular demonstram uma execução eficiente e adaptativa por parte da Vale, mitigando desafios operacionais e ambientais. A modularização, em particular, foi uma escolha estratégica para superar as dificuldades de licenciamento ambiental relacionadas ao desmatamento e à mobilização de pessoal em uma área remota. Isso ilustra uma abordagem proativa na resolução de problemas e um compromisso em integrar considerações ambientais no cerne do projeto, e não apenas como um requisito de conformidade.  

Tabela 1: Cronograma de Marcos Chave do Projeto S11D

Período/Ano Status/Atividade Detalhes/Observações Fonte
2001 Estudos Iniciais Início dos primeiros estudos técnicos e de viabilidade.
Junho 2012 Licença Prévia (LP) Concedida pelo IBAMA, atestando a viabilidade ambiental.
Junho 2012 Início da Construção Obras de infraestrutura básica e compra de equipamentos.
1º Semestre 2013 Licença de Instalação (LI) Emitida, autorizando as obras de construção da usina.
2014 Primeira Concretagem Início das fundações do edifício de Peneiramento Secundário da Usina de Beneficiamento.
Pico da Construção Geração de Empregos Absorção de cerca de 30 mil trabalhadores.
2º Semestre 2016 Início das Operações Obras físicas 79% finalizadas; início da operação da mina.
Dezembro 2016 Licença de Operação (LO) Concedida, permitindo a produção.
Janeiro 2017 Operação Comercial Início oficial das operações comerciais e carregamento do primeiro minério em navios.
Dezembro 2017 1 Ano de Operação Estimativa de 22 milhões de toneladas produzidas em 2017. Sistema truckless antecipado.
2020 Capacidade Plena Atingimento da capacidade de produção de 90 milhões de toneladas/ano.
2020 Arrecadação Municipal Arrecadação de Canaã dos Carajás 34 vezes maior devido aos royalties do S11D.
2024 Produção Recorde S11D atinge produção recorde no 4T de 2024 e 1T de 2024.
H1 2024 (esperado) Início Serra Sul 120 Start-up da expansão para 120 Mtpa.
2025-2030 Programa Novo Carajás Investimento de R$ 70 bilhões para aumentar capacidade de minério de ferro e cobre.
2030 Meta de Produção Carajás Atingir 200 milhões de toneladas/ano na região de Carajás.
2030 Meta de Cobre Carajás Atingir 350 mil toneladas/ano na área de Carajás.
2059 (previsto) Vida Útil da Mina Operações planejadas até 2059.

 

III. Inovação Tecnológica e Sustentabilidade

O Projeto S11D se destaca não apenas por sua escala, mas também pela integração de tecnologias inovadoras que visam otimizar a eficiência operacional e, simultaneamente, mitigar os impactos ambientais.

O Conceito “Mine-to-Port”

O S11D foi concebido sob o conceito abrangente de “Mine-to-Port” (da mina ao porto), que representa uma abordagem holística para a cadeia de valor do minério de ferro. Este conceito busca otimizar toda a sequência, desde a extração do minério na mina até sua entrega no terminal marítimo para exportação. A integração de mina, usina de beneficiamento, logística ferroviária e portuária é um pilar central dessa filosofia.  

Essa integração completa não é apenas uma estratégia logística, mas uma filosofia de design que permite à Vale controlar e otimizar cada etapa da cadeia de valor do minério de ferro. Ao gerenciar todo o processo, desde a extração de minério de alto teor na mina até a entrega no porto com baixo custo, a Vale obtém uma vantagem competitiva significativa no mercado global. Essa otimização é crucial para a lucratividade da empresa e para sua capacidade de reagir às flutuações do mercado. Além disso, o controle sobre toda a cadeia permite a “blendagem” (mistura) de minérios de diferentes qualidades (do S11D e de outras minas da Vale) para atender às especificações e demandas de diversos mercados internacionais. Essa flexibilidade estratégica na composição do produto final é um diferencial que aprimora a competitividade do minério brasileiro, especialmente em relação a concorrentes geograficamente mais próximos de mercados-chave como a China.  

Processamento a Úmido Natural (Dry Processing)

Uma das inovações mais significativas do S11D é o processamento a úmido natural, também conhecido como beneficiamento a seco. Nesta tecnologia, o minério é beneficiado em sua umidade natural, eliminando a necessidade de adição de água no processo principal. Este é um avanço substancial em termos de sustentabilidade ambiental.  

Os benefícios ambientais dessa tecnologia são notáveis:

  • Redução do consumo de água: O processo a seco reduz o consumo de água em 93% em comparação com um projeto convencional de mineração. Essa economia de água é equivalente ao abastecimento de uma cidade com 400.000 habitantes por um ano.  

  • Eliminação de barragens de rejeitos: A alta qualidade do minério de ferro do S11D, com alto teor e baixa concentração de impurezas, permite que o beneficiamento a seco elimine a geração de rejeitos úmidos e, consequentemente, a necessidade de barragens de rejeitos. As partículas mais finas, que seriam descartadas em processos convencionais, são incorporadas ao produto final. A eliminação de barragens de rejeitos é um avanço crucial, especialmente considerando os riscos de segurança e os impactos ambientais associados a essas estruturas, como demonstrado pelos desastres de Mariana e Brumadinho. Embora o S11D não utilize barragens de rejeitos, o contexto desses eventos anteriores da Vale sublinha a importância estratégica dessa inovação para a segurança e a reputação da empresa.  

  • Redução de custos operacionais: A ausência de barragens de rejeitos e a menor demanda por água também contribuem para a redução dos custos operacionais.  

A adoção do processamento a úmido natural é uma resposta direta aos desafios ambientais e de segurança associados à mineração tradicional. Ao eliminar barragens de rejeitos e reduzir drasticamente o consumo de água, o S11D estabelece um novo padrão de “mineração verde”. Essa abordagem demonstra uma proatividade na gestão de riscos e um alinhamento com as crescentes demandas por práticas sustentáveis na indústria global. A Vale planeja que até 2027, 100% de suas operações no Sistema Norte, que inclui Carajás, utilizem o processamento a seco , consolidando essa tecnologia como um padrão operacional.  

Sistema “Truckless”

O Projeto S11D foi inicialmente concebido com um sistema “truckless”, ou seja, sem a utilização de caminhões fora-de-estrada para o transporte interno do minério na mina. Em vez disso, o minério é transportado por um sistema integrado de escavadeiras, britadores móveis e correias transportadoras de longa distância. As correias transportadoras podem atingir entre 30 km e 68 km de extensão , levando o minério diretamente da frente de lavra para a usina de beneficiamento.  

As vantagens desse sistema são significativas:

  • Redução do consumo de diesel: A substituição dos caminhões por correias transportadoras resulta em uma redução de aproximadamente 70% no consumo de diesel.  

  • Redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): Consequentemente, há uma diminuição de cerca de 50% nas emissões de GEE.  

  • Minimização de resíduos: O uso reduzido de equipamentos de transporte pesado também acarreta uma diminuição significativa na produção de resíduos como pneus, filtros de óleo e lubrificantes.  

  • Mitigação de desafios de mão de obra: O sistema “truckless” também contribui para mitigar a dificuldade de encontrar e reter mão de obra qualificada em áreas remotas, ao reduzir a dependência de operadores de caminhões.  

É importante notar que, embora o projeto tenha sido inicialmente concebido como “totalmente truckless”, a realidade operacional levou a algumas adaptações. Atualmente, o S11D tem incorporado o uso estratégico de alguns caminhões e britadores compactos para proporcionar maior flexibilidade operacional e para lidar com materiais mais duros, como a jaspilita, uma rocha mais abrasiva e resistente encontrada em Carajás. Essa transição de um sistema puramente “truckless” para uma solução híbrida demonstra a complexidade da otimização operacional em megaempreendimentos. A necessidade de flexibilidade e a adaptação a condições geológicas específicas mostram que a sustentabilidade e a eficiência são metas dinâmicas, que exigem ajustes contínuos e uma combinação de tecnologias e abordagens, em vez de uma solução única e estática.  

Outras Inovações: Construção Modular da Usina

Além das tecnologias de processamento e transporte, o S11D implementou a construção modular da usina de beneficiamento. Esse conceito, similar ao utilizado na indústria de plataformas offshore , permitiu que grandes seções da usina fossem pré-montadas em um pátio em Canaã dos Carajás, a 53 km do local final da construção. Posteriormente, os 109 módulos foram transportados gradualmente e montados no local.  

Essa inovação de engenharia não apenas acelerou o cronograma de construção e potencialmente reduziu custos, mas também serviu como uma medida de mitigação ambiental e social. Ao permitir que grande parte da construção ocorresse fora da Floresta Nacional de Carajás, a modularização minimizou a necessidade de desmatamento na área da mina e reduziu a mobilização de um grande número de trabalhadores em um local sensível. Isso exemplifica como soluções de engenharia criativas podem ser intrinsecamente ligadas a objetivos de sustentabilidade e gestão de impacto, indo além de simples conformidade regulatória e demonstrando um compromisso com a minimização da pegada ambiental do projeto.  

Tabela 2: Comparativo de Impactos Ambientais do S11D (Convencional vs. Inovador)

Parâmetro Ambiental Cenário Convencional (Estimativa) Cenário S11D com Inovação Redução Percentual Fonte
Consumo de Água ~1,7 milhão m³/mês (para planta do mesmo tamanho) 110.000 m³/mês 93%
Emissões de GEE Redução de 130.000 tCO2e/ano 50%
Consumo de Diesel Uso de 100 caminhões fora-de-estrada (240t) Eliminação da maioria dos caminhões 70-77%
Geração de Rejeitos Necessidade de barragens de rejeitos Eliminação de barragens de rejeitos 100%
Supressão de Vegetação (Flonaca) Plano original: 2.600 hectares Redução da supressão na Flonaca >40%

 

IV. Infraestrutura Logística Integrada

A estratégia “Mine-to-Port” do S11D depende criticamente de uma infraestrutura logística robusta e altamente eficiente. Os investimentos significativos em ferrovias e terminais portuários são essenciais para o escoamento da produção em larga escala.

Estrada de Ferro Carajás (EFC)

O transporte do minério de ferro do S11D é realizado predominantemente pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), que conecta a Serra de Carajás ao Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). Para suportar o volume massivo de minério do S11D e de outras minas da região, o projeto incluiu uma expansão substancial da EFC.  

Os detalhes dessa expansão são impressionantes:

  • Ramal ferroviário: Foi construído um novo ramal ferroviário de 101 km para conectar a usina de beneficiamento do S11D diretamente à EFC.  

  • Duplicação e remodelação: A EFC passou por um processo de duplicação e remodelação de trechos, com 575 km de ferrovia duplicados e a construção de 48 novas pontes ferroviárias. O objetivo dessa ampliação era permitir o transporte de até 230 milhões de toneladas de minério de ferro provenientes tanto das minas de Carajás quanto do S11D.  

  • Túneis e pontes: A construção do ramal ferroviário envolveu a escavação dos primeiros túneis no sistema logístico da Vale no Norte do Brasil, com quatro túneis, sendo o mais longo com quase 1 km de extensão. Essas obras foram planejadas para minimizar os impactos na Floresta Nacional de Carajás, com apenas 3 km dos 101 km do ramal passando pela floresta; a maior parte atravessa áreas de pastagem adquiridas pela Vale. Além disso, quatro pontes suspensas foram construídas sobre rios da região, permitindo a revegetação natural das áreas sob as pontes e a manutenção da conectividade florestal para a circulação de animais.  

A expansão massiva da EFC e a construção do ramal ferroviário representam mais do que simples melhorias de infraestrutura; são investimentos estratégicos que desbloqueiam a capacidade de toda a província mineral de Carajás, e não apenas do S11D. Essa visão de longo prazo permite à Vale consolidar sua posição como um player dominante no mercado global, garantindo o escoamento eficiente de volumes crescentes de minério de alta qualidade. A EFC é considerada a ferrovia mais eficiente do Brasil , e sua expansão é fundamental para a competitividade logística do minério brasileiro.  

Terminal Marítimo de Ponta da Madeira

O Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, localizado em São Luís (MA), é o ponto final da cadeia logística do S11D e foi ampliado como parte integrante do projeto. Essa ampliação foi essencial para acomodar o volume significativamente maior de embarques de minério de ferro gerado pelo S11D.  

A ampliação do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira é o culminar da cadeia logística “Mine-to-Port”, sendo crucial para a Vale escoar eficientemente o alto volume de minério de ferro de Carajás para o mercado global. A capacidade de operar com navios de maior calado, implícita na necessidade de expansão para um “muito grande aumento” de embarques , e a otimização dos custos de entrega no porto (o custo-caixa C1 do minério do S11D entregue no terminal é de US$ 7,7 por tonelada) são diferenciais críticos para a competitividade do minério brasileiro no mercado internacional. A integração perfeita entre a mina, a usina, a ferrovia e o terminal portuário forma um sistema coeso, projetado para maximizar a eficiência e a vantagem de custo, elementos cruciais para a liderança da Vale no setor.  

V. Impactos Socioeconômicos e Desenvolvimento Regional

O Projeto S11D, como um megaempreendimento, teve e continua a ter impactos socioeconômicos profundos e multifacetados na região de Carajás, especialmente no município de Canaã dos Carajás, e nos estados do Pará e Maranhão.

Geração de Empregos

O S11D gerou um número significativo de empregos diretos e indiretos ao longo de suas fases de construção e operação [User Query].

  • Fase de Construção: No pico das obras, o projeto absorveu uma força de trabalho de aproximadamente 30 mil trabalhadores. A grande maioria desses profissionais era residente do Pará e do Maranhão, contribuindo para o desenvolvimento econômico local.  

  • Fase de Operação: Na fase de operação da mina, a previsão era de geração de 2.600 empregos diretos e pelo menos outros 7.000 empregos indiretos, considerando a demanda por serviços gerada pelo empreendimento no município de Canaã dos Carajás.  

A geração massiva de empregos, particularmente durante a fase de construção, impulsionou o desenvolvimento econômico e social em municípios como Canaã dos Carajás. No entanto, a transição da fase de construção, que é intensiva em mão de obra, para a fase de operação, que é mais automatizada (graças a sistemas como o “truckless”), pode resultar em uma diminuição do emprego local após a conclusão das obras. Relatos indicam que a operação do S11D, apesar de seus benefícios, gerou desafios como o aumento da desigualdade e a perda de empregos em alguns setores, com o fechamento de muitos negócios e a redução drástica do movimento na cidade. Essa dinâmica destaca a necessidade de estratégias de adaptação e diversificação econômica de longo prazo para as comunidades dependentes da mineração.  

Contribuição Econômica Regional

O S11D impactou positivamente as exportações brasileiras e impulsionou o desenvolvimento econômico e social do país, em particular nos estados do Pará e Maranhão. Um dos impactos mais tangíveis é o aumento da arrecadação municipal.  

  • Arrecadação Municipal (CFEM): A arrecadação de Canaã dos Carajás aumentou exponencialmente, tornando-se 34 vezes maior em apenas quatro anos devido à ampliação dos royalties (Contribuição Financeira pela Exploração Mineral – CFEM) gerados pela operação do Complexo S11D. Em 2016, ano de inauguração, o município arrecadava R$ 18,7 milhões em CFEM; em 2020 (até novembro), esse valor saltou para R$ 643 milhões.  

  • Investimentos em Infraestrutura e Diversificação: Os recursos provenientes da CFEM têm sido aplicados na infraestrutura da cidade, incluindo a Etapa da Transcarajás, o terminal rodoviário e novas avenidas. Além disso, o município criou uma lei pioneira que destina 5% da CFEM para um Fundo Municipal de Desenvolvimento Sustentável, visando a diversificação da matriz econômica. O antigo canteiro de obras do S11D foi doado à prefeitura para abrigar a primeira faculdade pública e um Distrito Industrial.  

  • Programas de Desenvolvimento Social: A Vale, por meio da Fundação Vale, contribui para o desenvolvimento social dos territórios onde opera, apoiando iniciativas em educação, saúde básica e negócios sociais. Isso demonstra um esforço para ir além da mera atividade minerária e promover o bem-estar das comunidades.  

O aumento exponencial da arrecadação municipal via CFEM demonstra o poder transformador do S11D na economia local, permitindo investimentos significativos em infraestrutura e diversificação econômica. No entanto, a dependência excessiva dos royalties da mineração, que se tornaram a “principal fonte de arrecadação da cidade” , pode criar vulnerabilidades econômicas a longo prazo, caso haja flutuações nos preços das commodities ou o fim da vida útil da mina. Essa situação sublinha a importância da gestão prudente desses recursos para garantir a sustentabilidade do município pós-mineração. A percepção da Vale como uma “salvadora” diante de carências que o Estado não conseguiu suprir , e a declaração da empresa de que “jamais pretendemos substituir o poder público” , revelam a complexa dinâmica de poder e responsabilidade entre a empresa e o governo local em territórios minerários.  

Tabela 3: Geração de Empregos e Contribuição Econômica do S11D

Fase do Projeto Tipo de Emprego Número de Empregos Impacto na Arrecadação Municipal (CFEM) Outros Investimentos/Benefícios Fonte
Construção Diretos e Indiretos ~30.000 (pico) N/A Desenvolvimento regional no Pará e Maranhão.
Operação Diretos 2.600 (previsão) Aumento de 34x na CFEM de Canaã dos Carajás (2016: R$ 18,7 mi; 2020: R$ 643 mi) Aplicação de recursos em infraestrutura (Transcarajás, terminal rodoviário, avenidas).
Operação Indiretos ~7.000 (previsão) Criação de Fundo Municipal de Desenvolvimento Sustentável (5% da CFEM). Doação de canteiro do S11D para faculdade pública e Distrito Industrial.
Geral N/A N/A Impacto positivo nas exportações brasileiras. Programas sociais da Fundação Vale (educação, saúde, negócios sociais).

 

VI. Gestão Ambiental e Desafios

A localização do Projeto S11D na Floresta Nacional de Carajás (Flonaca), uma área de grande importância ambiental, exigiu um planejamento ambiental rigoroso e investimentos substanciais em medidas de mitigação e compensação. No entanto, o projeto também enfrentou e continua a enfrentar controvérsias e críticas, especialmente em relação aos impactos sociais e ambientais.

Planejamento Ambiental Rigoroso

A Vale implementou uma série de medidas para minimizar a interferência no bioma amazônico:

  • Localização da Usina: Grande parte da operação, incluindo a usina de beneficiamento, os pátios de estocagem e as pilhas de estéril, foi instalada fora da Flonaca, em áreas de pastagem. Essa decisão estratégica minimizou a supressão de vegetação na floresta em mais de 40% em comparação com o plano original, que previa 2.600 hectares.  

  • Pegada Ambiental Reduzida: Mesmo após a implementação completa do S11D, menos de 4% da Flonaca, que abrange 412 mil hectares, foi afetada por atividades de mineração desde que a Vale se estabeleceu na região há mais de 30 anos.  

  • Compensação e Recuperação de Áreas: A Vale adquiriu 10.300 hectares de pastagens degradadas ao redor da usina para fins de compensação ambiental. Parte dessas áreas será replantada com árvores nativas para formar a “Reserva Legal” do projeto e conectar fragmentos florestais isolados. O programa “Corredor Ecológico”, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), visa a recuperação de 2.221 hectares de áreas degradadas.  

  • Parcerias e Pesquisa: A Vale colabora com o ICMBio para proteger cerca de 800.000 hectares de florestas no Mosaico de Carajás e desenvolve programas como o de Genômica da Biodiversidade Brasileira. O projeto S11D também permitiu o aprofundamento e a adaptação dos padrões de desempenho internacionais da IFC (Corporação Financeira Internacional) para a gestão da biodiversidade.  

A estratégia ambiental da Vale no S11D vai além da mitigação direta, incorporando a compensação e a conservação em larga escala por meio de parcerias e investimentos em biodiversidade. Isso sugere uma abordagem mais sofisticada, buscando um “impacto positivo líquido” ou “perda líquida zero” , com o objetivo de equilibrar a exploração mineral com a proteção de um bioma crítico. A adoção de padrões internacionais como os da IFC demonstra um alinhamento com as melhores práticas globais em gestão ambiental, posicionando o S11D como um caso de estudo em mineração de larga escala dentro de ecossistemas sensíveis.  

Controvérsias e Críticas

Apesar dos esforços em sustentabilidade, o Projeto S11D e a atuação da Vale na região têm sido alvo de controvérsias e críticas significativas.

  • Impactos na Floresta Nacional de Carajás: A própria localização do projeto em uma área de preservação ambiental gerou questionamentos ambientais e sociais durante o processo de licenciamento.  

  • Relação com Comunidades Indígenas e Expansão Ferroviária: As críticas mais acentuadas vêm dos impactos da duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) na vida dos povos indígenas Gavião da Terra Indígena Mãe Maria. Relatos incluem:  

    • Impacto no modo de vida: Afastamento de caça, interrupção do acesso a corpos d’água e desorganização do modo de vida tradicional.  

    • Divisões internas: A introdução de dinheiro de compensação pela Vale teria gerado divisões internas e fragmentado a coesão social das aldeias Gavião.  

    • Problemas de segurança: Mortes ocorreram em travessias da linha férrea, e o constante ruído dos trens tem desestabilizado casas e causado rachaduras em paredes e fundações.  

    • Conflitos e Acusações: Houve relatos de conflitos violentos com seguranças contratados pela Vale. Líderes indígenas alegam que a Vale utilizou estratégias “duvidosas e antiéticas” para obter consentimento para a duplicação da ferrovia, desrespeitando o direito dos povos indígenas de negar consentimento e aproveitando a necessidade durante a pandemia de COVID-19 para minar a resistência à expansão.  

    • Saúde e Autonomia: A Vale também teria retirado o apoio a procedimentos de saúde de alta complexidade, não cobertos pelo sistema de saúde indígena do Ministério da Saúde, e as comunidades indígenas teriam perdido autonomia com novos acordos de compensação.  

As controvérsias sociais e ambientais, particularmente as relacionadas às comunidades indígenas e à expansão da ferrovia , revelam a tensão inerente entre o desenvolvimento de megaempreendimentos e os direitos e modos de vida das populações locais. A introdução de compensações financeiras que fragmentam comunidades é um exemplo complexo de impacto social adverso, mesmo quando a intenção é mitigar danos. Isso sublinha que a “sustentabilidade” em grandes projetos de mineração é um conceito multifacetado e contestado, que exige mais do que apenas conformidade ambiental, mas também uma gestão social robusta e ética.  

  • Preocupações com Segurança de Barragens: Embora o S11D não utilize barragens de rejeitos devido ao seu processo a seco , a reputação da Vale foi severamente afetada por desastres de barragens em outras operações, como Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Essas tragédias geraram críticas sobre a omissão de informações sobre riscos, falta de transparência e falhas na punição dos responsáveis. A percepção pública da Vale é moldada por esses eventos, o que pode influenciar a aceitação de todos os seus projetos, incluindo o S11D. A empresa tem enfrentado disputas legais e ações judiciais relacionadas a esses eventos. A gestão da reputação e a reconstrução da confiança com a sociedade são desafios contínuos para a Vale.  

VII. Status Atual e Planos Futuros

O Projeto S11D continua a ser um ativo estratégico para a Vale, com um desempenho operacional robusto e planos de expansão que reforçam sua importância para o futuro da empresa e do setor de mineração.

Desempenho Operacional Recente

O S11D tem demonstrado um desempenho operacional notável nos últimos anos.

  • Produção Recorde: Em 2024, a produção de minério de ferro da Vale atingiu 328 milhões de toneladas (Mt), o maior volume desde 2018, superando o guidance original da empresa. No quarto trimestre de 2024, a produção de minério de ferro do S11D alcançou um recorde.  

  • Otimização de Portfólio: Esse desempenho ocorreu em um contexto de otimização do portfólio da Vale, que priorizou a produção de minérios de maior margem, resultando em uma diminuição da produção do Sistema Sul, enquanto o S11D se destacou. A produção do S11D no primeiro trimestre de 2024 foi de 17,71 Mt, a maior para um primeiro trimestre desde 2020, atribuída a iniciativas de confiabilidade de ativos e maior estabilidade operacional durante a estação chuvosa.  

  • Flexibilidade Operacional: O aumento do conhecimento geológico no S11D permite planos de mineração mais precisos, e a combinação do sistema “truckless” com uma frota de mineração móvel oferece maior flexibilidade operacional.  

O desempenho recorde do S11D em 2024 e a priorização de minérios de maior margem no portfólio da Vale indicam uma estratégia clara de maximização de valor sobre o volume puro. Isso demonstra a maturidade operacional do S11D e sua capacidade de atuar como um pilar de alta qualidade e baixo custo, permitindo à Vale otimizar sua oferta global em resposta às condições de mercado. A flexibilidade operacional, mesmo com a reintrodução de alguns caminhões para lidar com materiais mais duros como a jaspilita , é crucial para manter a produtividade em condições desafiadoras e sublinha a contínua busca por eficiência e adaptação.  

Projeto Serra Sul 120

A Vale tem planos de expansão para o complexo S11D por meio do Projeto Serra Sul 120.

  • Aumento de Capacidade: Este projeto visa aumentar a capacidade de produção do S11D em 20 milhões de toneladas por ano (Mtpa), elevando a capacidade total do site para 120 Mtpa.  

  • Investimento: O Conselho de Administração da Vale aprovou a implantação do Projeto Serra Sul 120, com um investimento plurianual de US$ 1,5 bilhão.  

  • Cronograma: O start-up da expansão era esperado para o primeiro semestre de 2024.  

  • Escopo: O projeto inclui a abertura de novas áreas de mineração, a duplicação de uma correia transportadora de longa distância e a implementação de novas linhas de processamento na usina. Além disso, envolve a instalação de um britador semi-móvel na Área 5.  

O Projeto Serra Sul 120 representa a próxima fase da estratégia de crescimento da Vale em Carajás, capitalizando o sucesso e a infraestrutura existente do S11D. O investimento de US$ 1,5 bilhão para um aumento de 30 Mtpa (de 90 para 120 Mtpa) indica uma expansão eficiente em termos de capital, aproveitando sinergias e ativos já estabelecidos. Isso reforça a importância estratégica de longo prazo do S11D dentro do portfólio da Vale.  

Programa Novo Carajás

Em um movimento estratégico de longo prazo, a Vale lançou o programa “Novo Carajás” em fevereiro de 2025, com um investimento previsto de R$ 70 bilhões (aproximadamente US$ 12,78 bilhões) ao longo de cinco anos (2025-2030).  

  • Metas de Produção: O programa visa aumentar a capacidade anual de minério de ferro na região de Carajás para 200 milhões de toneladas até 2030. Isso será alcançado principalmente através da expansão do S11D (adicionando 20 milhões de toneladas anuais) e da substituição da produção de minas em exaustão.  

  • Diversificação de Portfólio: O programa também prevê um aumento de 32% na produção de cobre na área de Carajás, atingindo aproximadamente 350.000 toneladas anuais até 2030.  

  • Foco em Sustentabilidade: O “Novo Carajás” enfatiza práticas de mineração sustentáveis, melhorias tecnológicas, e aprimoramentos em saúde e segurança. A Vale tem intensificado seu foco em ações relacionadas à transição energética e descarbonização, produzindo minério de ferro de alta qualidade que aumenta a eficiência de altos-fornos e reduz emissões, além de fornecer níquel e cobre, essenciais para a produção de energias renováveis.  

  • Impacto Regional: Espera-se que o programa contribua significativamente para o PIB do Pará, na faixa de R$ 80-100 bilhões por ano, e aumente as exportações do estado em R$ 15 bilhões.  

O Programa Novo Carajás sinaliza uma evolução estratégica da Vale, que vai além da simples expansão da produção de minério de ferro. O foco em cobre e “minerais críticos essenciais para a descarbonização e a transição energética global” posiciona a Vale como um ator chave na economia verde global. Ao alinhar seus objetivos de crescimento com as megatendências de sustentabilidade e descarbonização, a empresa demonstra uma visão de portfólio mais resiliente e diversificada para o futuro da mineração.  

Tabela 4: Capacidade de Produção do S11D e Projeções Futuras

Ano/Período Capacidade de Produção (Mtpa) Observações Fonte
2017 22 (estimado) Primeiro ano de operação.
2018 50-55 (esperado) Ramp-up contínuo.
2019 70-80 (previsto) Ramp-up contínuo.
2020 90 (atingido) Capacidade nominal plena.
2024 (4T) Recorde de produção Otimização de portfólio, priorizando minérios de maior margem.
2024 (1T) 17.71 (recorde para o período) Maior produção para um primeiro trimestre desde 2020.
2026 120 (previsto) Meta do Projeto Serra Sul 120.
2030 200 (na região de Carajás) Meta do Programa Novo Carajás, incluindo S11D e outras minas.

 

VIII. Relevância Global e Perspectivas

O Projeto S11D transcende sua importância regional e nacional, posicionando-se como um ator de relevância estratégica na indústria global de mineração e na transição energética mundial.

Posicionamento da Vale no Mercado Global

O S11D é fundamental para a Vale manter sua liderança no mercado global em termos de volume, custo e qualidade. O minério de ferro extraído do S11D é de altíssima qualidade, com teor de ferro entre 66% e 67% , e possui um custo de produção excepcionalmente baixo, estimado em US$ 7,7 por tonelada C1 entregue no porto. Essa combinação de alta qualidade e baixo custo não apenas fortalece a posição da Vale como líder de mercado, mas também influencia a dinâmica global do comércio de minério de ferro. A empresa pode oferecer um produto superior a um custo altamente competitivo, mesmo considerando a distância geográfica de mercados-chave como a China. Isso pode exercer pressão sobre concorrentes e incentivar a adoção de tecnologias semelhantes para otimização de custos e sustentabilidade em toda a indústria.  

A vantagem competitiva do S11D também permite a “blendagem” (mistura) com minérios de menor teor provenientes de outras minas da Vale, otimizando o portfólio de produtos e favorecendo a competitividade geral do minério brasileiro no mercado internacional. Essa capacidade de customizar a oferta de minério de ferro para atender às demandas específicas dos clientes globais é um diferencial estratégico.  

S11D como Referência na Indústria de Mineração

O S11D é amplamente considerado uma referência mundial em mineração devido às suas tecnologias inovadoras e aos compromissos com a sustentabilidade. As inovações como o processamento a úmido natural (dry processing) e o sistema “truckless” permitiram reduções significativas no consumo de água (93%), combustível (70-77%) e emissões de GEE (50%), além de eliminar a necessidade de barragens de rejeitos.  

O S11D atua como um laboratório em escala real para a Vale, permitindo testar e refinar tecnologias que podem ser estendidas a outros projetos da empresa e, potencialmente, se tornarem padrões da indústria global. Isso posiciona a Vale não apenas como uma mineradora, mas como uma impulsionadora da inovação e da agenda de sustentabilidade no setor, especialmente em um contexto de crescente pressão por práticas de mineração responsáveis e descarbonização da cadeia de valor do aço. O projeto demonstra que investimentos em pesquisa e desenvolvimento, aliados à implementação em larga escala, podem impulsionar uma transformação setorial em direção a modelos mais sustentáveis.  

Contribuição para a Economia Brasileira e o Papel na Transição Energética Global

O S11D representa o maior investimento privado no Brasil na década de sua concepção e construção. Esse investimento impactou positivamente a balança comercial do país e impulsionou o desenvolvimento econômico e social, especialmente nas regiões do Pará e Maranhão. A contribuição econômica do S11D para o Brasil vai além da geração de receita e empregos diretos; ela posiciona o país como um fornecedor estratégico de minerais de alta qualidade para a transição energética global.  

Ao focar na produção de minério de ferro de alta qualidade, essencial para a produção de aço “verde” (com menor pegada de carbono) , e ao expandir a produção de cobre por meio do programa Novo Carajás, que é fundamental para a transição energética global , a Vale alinha o desenvolvimento econômico nacional com as demandas globais por descarbonização. Isso confere ao projeto uma relevância geopolítica e ambiental ampliada, demonstrando como a mineração pode ser um vetor para a economia verde e para a sustentabilidade global.  

IX. Conclusão

O Projeto S11D da Vale é um megaempreendimento que se consolidou como um marco na mineração global, redefinindo padrões de escala, eficiência e sustentabilidade. Sua localização estratégica na Serra Sul de Carajás garante acesso a reservas de minério de ferro de altíssima qualidade, um fator que, por sua vez, possibilitou a implementação de tecnologias inovadoras.

As inovações tecnológicas do S11D, como o conceito “Mine-to-Port”, o processamento a úmido natural (dry processing) e o sistema “truckless”, são os pilares de sua distinção. O beneficiamento a seco, em particular, representa um avanço fundamental ao reduzir o consumo de água em 93% e, crucialmente, eliminar a necessidade de barragens de rejeitos, mitigando riscos ambientais e de segurança significativos. O sistema “truckless”, embora tenha evoluído para incluir alguma flexibilidade com caminhões para otimização operacional, demonstrou reduções substanciais no consumo de diesel e nas emissões de GEE. A construção modular da usina também exemplifica como a engenharia criativa pode estar intrinsecamente ligada à minimização de impactos ambientais e à eficiência do projeto.

Em termos socioeconômicos, o S11D impulsionou o desenvolvimento regional, gerando dezenas de milhares de empregos durante a construção e milhares na fase de operação. O aumento exponencial da arrecadação de royalties em municípios como Canaã dos Carajás permitiu investimentos em infraestrutura e na diversificação econômica local. No entanto, o projeto também enfrentou desafios e controvérsias, notadamente os impactos sociais e culturais sobre comunidades indígenas devido à expansão da ferrovia e a gestão de relacionamentos em territórios complexos. Essas questões sublinham a tensão inerente entre o desenvolvimento de megaempreendimentos e os direitos e modos de vida das populações locais, exigindo uma gestão social robusta e ética contínua.

Atualmente, o S11D continua a ser um ativo de alto desempenho para a Vale, atingindo produções recordes e sendo um componente chave na estratégia da empresa de priorizar minérios de maior margem. Os planos futuros, como o Projeto Serra Sul 120, visam aumentar ainda mais a capacidade de produção do S11D, consolidando sua posição. Além disso, o abrangente Programa Novo Carajás sinaliza uma visão estratégica mais ampla da Vale, que busca não apenas expandir a produção de minério de ferro, mas também diversificar para minerais críticos como o cobre, essenciais para a transição energética global.

Em sua essência, o S11D é um microcosmo dos dilemas e avanços da mineração moderna. Ele ilustra a necessidade premente de extrair recursos para o desenvolvimento global, incluindo a infraestrutura da transição energética, ao mesmo tempo em que demonstra a imperativa de fazê-lo de forma mais sustentável e socialmente responsável. O projeto, com suas inovações e suas controvérsias, serve como um espelho para a evolução da própria indústria de mineração, que é cada vez mais pressionada a demonstrar sua “licença social para operar” e a contribuir ativamente para uma economia circular e de baixo carbono. O legado do S11D é, portanto, marcado pela busca incessante por maior eficiência e sustentabilidade, mas também pela necessidade contínua de diálogo, adaptação e aprimoramento em face das complexas realidades socioambientais. O projeto permanece um pilar da produção da Vale e um modelo para futuras operações que buscam equilibrar a demanda por recursos com a responsabilidade ambiental e social, especialmente no contexto da transição energética global.

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Final Book S11D PORT PDF | PDF | Biologia de Conservação | Brasil – Scribd

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