
Mercado do Ver-o-Peso
Um Patrimônio Vivo da Amazônia: Aspectos Históricos, Culturais, Econômicos, Urbanísticos e Ambientais
Origens e Construção do Patrimônio Histórico e Arquitetônico
O Mercado do Ver-o-Peso, um dos símbolos mais representativos da identidade paraense, tem origem no século XVII com a instalação da Casa de Haver o Peso por volta de 1625 ou 1627. Inicialmente, não era um mercado, mas um posto fiscal da Coroa Portuguesa para arrecadar impostos com base no peso das mercadorias [[1,3,5]].
Localizado em um ponto já utilizado por indígenas Tupinambá para trocas, o espaço evoluiu com o tempo. No século XVIII, Belém consolidou-se como o maior entreposto comercial da região amazônica [[4]]. Em 1839, o local já funcionava como uma ribeira de peixe, ainda com cobrança de impostos [[6]].
Em 1847, a casa original foi demolida para dar lugar ao Mercado de Peixe e ao Mercado de Carne, marcando a transição de posto fiscal para centro comercial formal [[6]].
O auge arquitetônico veio na Belle Époque (1879–1912), impulsionado pelo ciclo da borracha. Em 1899, começou a construção do Mercado de Ferro, projetado pelos engenheiros Bento Miranda e Raymundo Vianna, inaugurado em 1901 [[1,6]]. Sua estrutura metálica foi importada da Europa, com torres em estilo art nouveau e escamas de zinco do sistema Vieille-Montagne [[3,4]].
O Mercado de Carne, projetado por Francisco Bolonha, foi inaugurado em 1908 (ou 1867, segundo fontes), tornando-se um marco da arquitetura da cidade [[3,6,8]].
Em 1977, o conjunto foi tombado pelo IPHAN como Patrimônio Nacional, protegendo uma área de 25 mil a 35 mil m² [[3,4,5,7]]. O complexo integra outros monumentos tombados, como o Theatro da Paz (1878) e o Palácio Antônio Lemos (1873) [[3]].

Dinâmicas Econômicas e Sociais: Um Centro de Vida e Resistência
O Ver-o-Peso é um dos principais motores da economia paraense, injetando cerca de R$ 1 milhão por dia na região [[5,7]]. Emprega cerca de 5.000 pessoas, incluindo 744 permissionários e milhares de trabalhadores informais [[5,7]].
O mercado é crucial para o setor pesqueiro: o Pará produz 300 mil toneladas de pescado por ano, sendo 20% comercializado no Ver-o-Peso — um dos maiores centros de pescado do Brasil [[5]].
Os produtos refletem a biodiversidade amazônica: açaí, peixes (pirarucú, piraíba), tucupi, farinha, frutas nativas (cupuaçu, bacuri), castanha, artesanato e ervas medicinais [[2,3,4,8]].
Muitos produtores chegam via transporte fluvial, mantendo um circuito curto entre o interior e a capital [[3,7]].
Apesar da concorrência com supermercados e compras online, o mercado resiste por sua experiência cultural. As boieiras (barracas de comida) oferecem pratos típicos como peixe com açaí (43,48% dos casos), tacacá, maniçoba e vatapá [[7]].
A cultura popular celebra o mercado, como na música de Dona Onete, que homenageia o “pitiú” — o cheiro característico da feira [[2]]. O Ver-o-Peso é também um ponto de encontro social e religioso, especialmente durante o Círio de Nazaré, que atrai milhões de pessoas [[2,8]].

O Complexo Urbano e Ambiental: Integração e Desafios Contemporâneos
O Ver-o-Peso está localizado no centro histórico de Belém, às margens da baía do Guajará, e integra diversas áreas: Mercado de Ferro, Mercado de Carne, Doca, Feira do Açaí, Praça do Relógio e Boulevard Castilhos França [[2,3,4]].
Sua relação com o meio aquático é histórica e funcional: a Doca do Ver-o-Peso é a única das três originais que ainda opera, recebendo embarcações regionais [[1]].
No entanto, o ambiente enfrenta sérios desafios ambientais. A falta de higiene é crítica, com restos de pescado descartados na baía, atraindo urubus e causando poluição [[4,8]].
Uma pesquisa de 2019 revelou percepções negativas da população:
Indicador | Status / Avaliação | Fonte(s) |
---|---|---|
Área Total | 25.000 a 35.000 m² | [[3,4,5,7]] |
Ponto Turístico | Sim, um dos principais de Belém | [[3,7]] |
Problema de Higiene | Crítico (58,19% avaliação ruim) | [[7]] |
Problema de Insegurança | Crítico (56,89% avaliação ruim) | [[7]] |
Problema de Acessibilidade | Crítico (68,33% avaliação ruim) | [[7]] |
Falta de Estacionamento | Crítico (59,59% avaliação ruim) | [[7]] |
Reforma Atual | R$ 64 milhões para a COP 30 (2025) | [[2]] |
A falta de câmaras frigoríficas adequadas leva ao uso de caixas de isopor com gelo, comprometendo a conservação [[8]].
O mercado passou por reformas em 1985, 1998–2002 e 2019 [[3,4,5,7]]. Atualmente, está em reforma para a COP 30, com realocação dos feirantes para um novo pavilhão climatizado [[2]].
Patrimônio Vivo: Cultura Material e Imaterial como Identidade
O Ver-o-Peso é um patrimônio vivo, onde cultura material e imaterial se entrelaçam [[1]].
A cultura material inclui produtos típicos, artesanato e as próprias edificações históricas, como o relógio da Praça do Relógio (importado da Inglaterra) e o Solar da Beira [[2,3]].
Em 2018, duas práticas foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Belém [[5,7]]:
- Comercialização de pescado e boieiros: saberes, linguagem e ética dos peixeiros.
- Comercialização de alimentos (boieiras): preparo de pratos típicos em ambiente informal.
Essas práticas são exemplos de desenvolvimento endógeno, baseadas em troca simbólica e confiança [[5]].
O mercado também é palco da cultura popular: aparece em vídeos da Anitta (“No Chão Novinha”) e na série da Netflix Cidade Invisível [[3]].
Durante o Círio de Nazaré, o Ver-o-Peso se transforma em espaço de fé e identidade coletiva, integrando-se ao maior evento religioso da América Latina, reconhecido pela UNESCO [[8]].
É um museu a céu aberto que respira cultura, onde o passado dialoga com o presente.
Transformações Contínuas: Políticas de Gestão, Reformas e Futuro
O mercado passou por ciclos de reforma: 1968, 1980s, 1998–2002 e 2019 [[5,7]]. A reforma do Mercado de Carne foi concluída em 2010 [[4,6]].
Atualmente, uma reforma de R$ 64 milhões está em andamento para a COP 30 em 2025, com apoio da Prefeitura, Governo Federal e Itaipu Binacional [[2]].
O novo pavilhão climatizado visa resolver problemas de ventilação, iluminação e higiene [[2]].
O Ver-o-Peso deverá servir como material pedagógico durante a COP, mostrando a vida amazônica para o mundo [[1]].
A gestão precisa equilibrar preservação e modernização, com participação dos comerciantes e comunidade [[5,7]].
O desafio futuro é modernizar sem perder a alma do lugar — garantir que o Ver-o-Peso continue sendo um centro de vida, cultura e resistência por séculos.