Estudo crítico: efeito sobre o câncer das ervas listadas (graviola, unha‑de‑gato, garra‑do‑diabo, gauçatonga, uxi‑amarelo, ipê‑roxo, sucupira e pacová)
Nota rápida: você mencionou “cinco ervas”, mas listou oito. Abaixo faço a revisão de todas elas. Se quiser que eu foque só em algumas, diga quais.
Sumário executivo (em linguagem direta)
- Não há comprovação de eficácia antitumoral em humanos para nenhuma dessas plantas. A maioria das evidências é de laboratório (células) e animais.
- Unha‑de‑gato tem pequenos estudos clínicos sugerindo possível melhora de qualidade de vida e fadiga em câncer avançado, mas sem encolhimento de tumor.
- Graviola tem muitos estudos in vitro, porém sem ensaios clínicos; há preocupações de segurança neurológica com uso crônico e possíveis interações.
- Ipê‑roxo contém naftoquinonas (lapachol/β‑lapachona) com efeitos citotóxicos in vitro; o chá/“suplementos” não mostraram benefício clínico e podem causar sangramento/toxicidade.
- Garra‑do‑diabo é anti-inflamatória para dores articulares, mas não tem evidência clínica anticâncer.
- Gauçatonga, uxi‑amarelo e sucupira têm dados preliminares (in vitro/animais) sem ensaios em humanos.
- “Pacová” é nome comum de várias espécies; preciso do nome científico para avaliar. Em geral, não há evidência oncológica.
Sempre converse com seu oncologista antes de usar qualquer planta, principalmente durante quimio, radio ou imunoterapia (risco de interações, sangramento, alteração de eficácia e exames).
1) Folha de graviola (Annona muricata, “soursop/guanábana”)
O que se sabe
- Compostos ativos: acetogeninas anonáceas (p.ex., annonacina), alcaloides, polifenóis.
- Mecanismos propostos (pré‑clínicos): inibição do complexo I mitocondrial/produção de ATP em células tumorais; apoptose; modulação de NF‑κB, HIF‑1α, EGFR; efeitos antimetabólicos.
Evidência
- In vitro/animais: atividade contra linhagens de mama, pâncreas, cólon, pulmão, próstata, fígado e pele; alguns modelos murinos com redução de crescimento tumoral.
- Humanos: não há ensaios clínicos mostrando benefício antitumoral.
Fontes:
- Revisão e monografia clínica do MSK (“About Herbs”) destacam ausência de dados em humanos e alertas de segurança MSK – Graviola.
- Revisão resumida para oncologistas com mesmos alertas The ASCO Post – Graviola.
- Revisão acadêmica recente sobre atividade anticâncer e preocupações com neurotoxicidade das acetogeninas (annonacina) MDPI Cancers – Review.
Segurança e interações
- Risco potencial de neurotoxicidade com consumo crônico de produtos de Annonaceae (síndromes parkinsonianas atípicas descritas no Caribe; ver fontes acima).
- Pode reduzir pressão arterial e glicemia (potencial somatório com anti‑hipertensivos/antidiabéticos).
- Pode interferir em exames de medicina nuclear (biodistribuição de radiofármacos).
- Sem dose “segura” estabelecida para fins oncológicos.
Conclusão
- Não usar como “tratamento” de câncer. Há risco/benefício desfavorável e interações potenciais.
2) Unha‑de‑gato (Uncaria tomentosa)
O que se sabe
- Compostos: alcaloides oxindólicos (pentacíclicos/POA e tetracíclicos/TOA), polifenóis, triterpenos.
- Mecanismos propostos: imunomodulação (aumento de fagocitose, células T auxiliares), modulação de NF‑κB, possível proteção contra dano ao DNA em modelos.
Evidência
- In vitro: citotoxicidade seletiva em algumas linhagens (varia conforme extrato/composição; POA geralmente mais ativo).
- Clínico (não antitumoral, e sim sintomático):
- Estudo fase II em tumores sólidos avançados: melhora de qualidade de vida e fadiga; nenhum encolhimento tumoral; bem tolerada na maioria dos pacientes ASCO abstract NCT02045719 e artigo em jornal de MTC PubMed.
- Monografia do MSK reforça dados limitados e potenciais interações MSK – Cat’s Claw.
- Revisão sistemática recente (in vitro) reforça variabilidade por método de extração/composição Frontiers 2025 – PMC.
 
Segurança e interações
- Efeitos GI (náusea, diarreia). Relatos raros: insuficiência renal (lúpus), piora de parkinsonismo.
- Pode aumentar risco de sangramento com anticoagulantes/antiagregantes; alterar níveis de fármacos via CYP3A4/2J2/UGT; interagir com antirretrovirais (relatos) — ver MSK.
Conclusão
- Pode ser considerada para suporte sintomático (fadiga/qualidade de vida) em contexto paliativo, mas sem efeito comprovado de redução tumoral. Uso só com ciência do oncologista.
3) Garra‑do‑diabo (Harpagophytum procumbens)
O que se sabe
- Uso principal: anti‑inflamatório e analgésico em osteoartrite/dor lombar (alguns estudos clínicos).
- Anticâncer: não há evidência clínica; apenas dados pré‑clínicos dispersos.
Segurança e interações
- Pode irritar TGI, causar úlceras/sangramento; relatos de pancreatite; potenciais interações com várias enzimas CYP e P‑gp (relevância clínica incerta).
- Fonte: MSK – Devil’s Claw.
Conclusão
- Não há base para uso oncológico. Se usado para dor/inflamação, monitorar interações e GI.
4) Gauçatonga (Casearia sylvestris)
O que se sabe
- Compostos: diterpenos/clorodanos e lignanas (p.ex., “casearinas”) com citotoxicidade in vitro.
- Evidência: estudos de laboratório e alguns modelos animais sugerem atividade antitumoral; não há ensaios clínicos.
- Segurança: dados clínicos de segurança limitados; qualidade e padronização dos extratos variam muito.
Conclusão
- Promissora como fonte de moléculas, mas sem evidência em humanos. Não usar com finalidade antitumoral.
5) Uxi‑amarelo (Endopleura uchi)
O que se sabe
- Tradicionalmente usado para condições ginecológicas/inflamatórias; principal composto relatado: bergenina.
- Evidência anticâncer: inexistente em humanos; dados in vitro/animais são escassos e não conclusivos.
- Segurança: poucos dados; atenção a uso concomitante com terapias oncológicas pelo risco de interações desconhecidas.
Conclusão
- Sem base para uso em câncer.
6) Ipê‑roxo (Handroanthus impetiginosus; sin. Tabebuia avellanedae; “pau d’arco/lapacho”)
O que se sabe
- Compostos: naftoquinonas (lapachol, β‑lapachona).
- Pré‑clínico: citotoxicidade ampla; β‑lapachona é bioativada por NQO1 (alvo estudado em fármacos experimentais).
- Clínico: lapachol em estudos antigos mostrou toxicidade (sangramento/efeitos GI) sem benefício consistente; derivados novos (p.ex., β‑lapachona/ARQ 761) foram estudados em fase inicial como fármacos, mas isso não valida chás/suplementos.
Segurança e interações
- Risco de sangramento (efeito tipo anticoagulante), náusea, vômitos; potencial hepatotoxicidade.
- Evitar com anticoagulantes/antiagregantes e em trombocitopenia (comum em quimio). Não usar durante quimio/radio sem liberação médica.
Conclusão
- Não recomendado para tratar câncer; risco supera benefício.
7) Sucupira (geralmente Pterodon emarginatus; às vezes Bowdichia spp.)
O que se sabe
- Compostos: diterpenos vouacapanos (em óleos de sementes/favas), com atividade anti‑inflamatória e analgésica; citotoxicidade in vitro em algumas linhagens.
- Evidência clínica oncológica: ausente.
Segurança e interações
- Dados humanos limitados; cuidado com potencial de sangramento/interações metabólicas desconhecidas durante quimio ou com anticoagulantes.
Conclusão
- Sem evidência para uso anticâncer. Se usado para dor/inflamação, alinhar com equipe médica.
8) Pacová (nome comum ambíguo)
“Pacová” pode se referir a espécies distintas (p.ex., Philodendron spp. ornamentais, Renealmia/Heliconia/Aniba, entre outros). As implicações para segurança e possíveis efeitos farmacológicos mudam totalmente com a espécie.
- Se puder, me diga o nome científico (gênero/espécie) ou mande foto/descrição da origem do produto para eu revisar com precisão.
- Em geral, não há evidência confiável de efeito anticâncer para plantas chamadas “pacová”. Algumas são ornamentais e não devem ser ingeridas.
Riscos e cuidados gerais
- Interações com tratamento do câncer:
- Metabolismo (CYP3A4/2C9/2D6, UGTs), transportadores (P‑gp) e coagulação podem ser afetados, alterando eficácia/toxicidade de quimio, hormonais, imunoterapia e anticoagulantes.
- Plantas com forte atividade antioxidante podem, teoricamente, interferir com quimio/radioterapia dependentes de espécies reativas (a evidência clínica é mista, mas a decisão deve ser individualizada).
 
- Qualidade de produto: suplementos não têm a mesma padronização de fármacos; há risco de adulteração, contaminação por metais/pesticidas e variação de dose/composição.
- Exames: graviola pode interferir em alguns exames de medicina nuclear.
Recomendações práticas
- Não substitua terapias oncológicas comprovadas por essas ervas.
- Se considerar uso para sintomas (dor, fadiga, qualidade de vida):
- Discuta com seu oncologista e farmacêutico clínico antes de iniciar.
- Evite começar novos fitoterápicos durante ciclos de quimioterapia/radioterapia sem liberação expressa.
- Evite ipê‑roxo e uso crônico de graviola, especialmente com histórico de sangramento, uso de anticoagulantes, ou sintomas neurológicos.
- Unha‑de‑gato pode ser discutida como adjuvante para qualidade de vida em contextos paliativos, mas com monitorização.
 
Referências selecionadas para aprofundar
- Graviola:
- Unha‑de‑gato:
- MSK – Cat’s Claw
- Estudo fase II (qualidade de vida): PubMed e ASCO abstract
- Revisão sistemática in vitro (2025): Frontiers/PMC
 
- Garra‑do‑diabo:
 
				 
            